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segunda-feira, 25 de abril de 2011

Os agentes duplos de Barcelona e Real Madrid

Evaristo marca de cabeça o gol que eliminou o Real Madrid da Copa dos Campeões de 1961 - Reprodução
Rivais dentro e fora de campo, Barcelona e Real Madrid voltam a se enfrentar nesta quarta-feira no terceiro duelo dos quatro previstos num espaço de 18 dias. Após o empate pelo Campeonato Espanhol e o título da Copa do Rey do Madrid, o jogo agora é ainda mais importante. O Santiago Bernabéu receberá o primeiro duelo das semifinais da Liga dos Campeões da Europa.
Em campo não estará nenhum jogador que tenha passado pela experiência que outros 33 atletas tiveram: a de terem jogador pelos dois maiores rivais do futebol espanhol. Do espanhol José Quirante, o primeiro a trocar um clube pelo outro (no caso o Barça pelo Real em 1906) até Javier Saviola, que fez o mesmo percurso mais de 100 anos depois em 2007, muitas histórias envolvem jogadores que ignoraram a rivalidade e fizeram a polêmica troca nos 109 anos de clássico.
Alguns foram ídolos pelos dois clubes, caso do meia Michael Laudrup e do atacante Evaristo de Macedo, outros se destacaram mais por um clube ou por outro, como o atacante Samuel Eto’o, que foi ídolo no Barcelona depois de uma discretíssima passagem pelo Real, e outros, apesar de serem jogadores de nome, não foram bem em ambos. Talvez o exemplo mais marcante de fracasso duplo seja o do romeno Gheorge Hagi, um dos destaques da Copa de 1994, que pouco fez pelo Real entre 1990 e 1992 e pelo Barcelona entre 1994 e 1996.
Algumas transferências foram polêmicas e acirraram ainda mais a rivalidade, como as de Bernd Schuster, Luís Enrique e Luís Figo. O alemão, por exemplo, foi um importante jogador do Barcelona na década de 80 e trocou de camisa após oito anos na Catalunha. Também acabou virando ídolo do Real.
Planeta que Rola selecionou seis jogadores que tiveram passagem marcante pelos dois clubes e conta abaixo um pouco de suas histórias.
Zamora, que fez história no Real - Reprodução
Ricardo Zamora – Chamado de El Divino, o polêmico goleiro que hoje dá nome ao prêmio de goleiro menos vazado do Campeonato Espanhol foi um especialista em ignorar rivalidades. Depois de trocar em 1919 o Espanyol pelo Barcelona, onde jogou por três anos, e voltar ao Espanyol para mais oito anos de contrato, Zamora foi para o Real Madrid em 1930. No clube da capital, jogou por seis temporadas. O goleiro é lembrado até hoje por uma defesa que fez no último minuto de um clássico justamente contra o Barcelona que garantiu ao Real o título da Copa do Rey de 1936.
Muito identificado com o madridismo por causa desse título, Zamora é um exemplo da rivalidade que extrapola os limites do campo entre Real e Barcelona. Por ter jogado a maior parte de sua carreira pelo Madrid e pelo Espanyol, que também recebeu o título de Real após a guerra civil espanhola (1936-1939), ele foi acusado de trair o nacionalismo catalão. Para piorar, em 1934, o goleiro recebeu a medalha da ordem da República, Zamora ainda teve a sua imagem explorada pela propaganda e jogou uma partida beneficente em nome da causa nacionalista.
Zamora faleceu em 1978 e perto dele jogadores como Adriano ou Edmundo seriam criancinhas inocentes. Gostava de beber conhaque e fumava três maços de cigarro por dia. Além disso, quando defendeu a seleção espanhola, foi expulso de uma partida contra a Itália após agredir um adversário durante os Jogos Olímpicos de 1920 em Antuérpia, na Bélgica. Ainda durante o torneio, foi preso e só liberado após pagar fiança sob a acusação de contrabandear cigarros cubanos.
Além daquele famoso título da Copa do Rey, Zamora também ajudou o Real a conquistar o primeiro título espanhol de sua história em 1932. Ainda seria campeão espanhol em 1933 e da Copa do Rey de 1934. Pelo Barcelona conquistou apenas as Copas do Rey de 1920 e 1922 e o campeonato catalão de 1920, 1921 e 1922.
Evaristo de Macedo – Dois brasileiros tiveram a honra de atuar pelos dois clubes, mas só Evaristo de Macedo foi direto de um rival para o outro e foi ídolo incontestável de ambos. Evaristo deixou o Flamengo para defender as cores azul e grená do Barcelona em 1957. Ficou lá até 1962 e neste período fez um dos gols mais importantes da história do clube ao marcar o gol da vitória sobre o Real por 2 a 1 na Copa dos Campeões da Europa de 1961. O gol eliminou o Madrid da competição no ano em que o clube de Puskas e Di Stéfano buscava o hexacampeonato europeu. Na final, porém, o Barcelona acabaria perdendo para o Benfica.
Em 1962, o Barcelona ofereceu que ele se naturalizasse cidadão espanhol, mas Evaristo não aceitou e acabou se transferindo para o Real Madrid onde jogaria até 1965. Pelo Barça, conquistou dois campeonatos espanhóis (1959 e 1960) e uma Copa do Rey (1959). No Real foi tricampeão espanhol em 1963-64-65.
Laudrup fez parte do Dream Team do Barcelona - Reprodução
Michael Laudrup – Hoje técnico do Mallorca, o craque dinamarquês é mais um exemplo de jogador que foi ídolo vestindo as duas camisas. Laudrup chegou ao Barcelona em 1989 para ser um dos principais jogadores do time dirigido por Johan Cruyff que seria chamado de Dream Team, que contava ainda com o zagueiro Koeman e o búlgaro Stoichkov entre os destaques. Laudrup liderou o time na conquista de quatro ligas espanholas consecutivas entre 1991 e 1994 e ainda ajudou o Barcelona a conquistar o seu primeiro título europeu em 1992.
Em 1994, o meia se transferiu para o Real Madrid após um desentendimento com Cruyff. Foram apenas duas temporadas no clube da capital, mas o suficiente para fazer história ao conduzir o Real ao título espanhol. Com o triunfo, Laudrup se tornou o único jogador a conquistar cinco ligas espanholas consecutivas por dois clubes diferentes. O meia também participou de duas vitórias histórias no clássico espanhol. Estava em campo nos 5 a 0 do Barcelona sobre o Real na temporada 1993-94 naquele jogo em que Romário fez três gols e também nos 5 a 0 que o Real devolveu ao Barcelona na temporada seguinte.
Luís Enrique – O espanhol chegou ao Real Madrid em 1991. Jogador de meio-campo de muita raça logo conquistou a torcida do clube pelo qual marcou 18 gols em 213 jogos em cinco anos. Muito identificado com o madridismo, se transferiu em 1996 direto para o Barcelona numa mudança muito polêmica e que gerou desconfiança na torcida catalã. Com a mesma dedicação que mostrou no Real, porém, conquistou os torcedores do Barça e ficou oito anos no clube, tendo se tornado até capitão do time. Pelo time catalão, disputou 300 partidas e marcou 109 gols. Hoje, ele é técnico do Barcelona B.
Pelo Real, Luís Enrique conquistou a Copa do Rey de 1993 e o Campeonato Espanhol de 1995. Pelo Barcelona, foram dois títulos espanhóis em 1998 e 1999, duas Copas do Rey em 1997 e 1998 e uma Supercopa da Europa em 1997.
Figo na apresentação ao Real - Reprodução da internet
Luís Figo – O português foi um dos primeiros jogadores a serem contratados pelo Real Madrid dentro da política galáctica do presidente Florentino Perez. Sua transferência do Barça para o Real em 2000 foi uma das mais controversas e provocou a ira dos torcedores do Barcelona, que se sentiram traídos e o receberam com muitas vaias e objetos jogados no gramado quando ele visitou o Camp Nou para jogar o clássico pelo Real. Até uma cabeça de porco foi jogada no gramado. 

Apesar do ódio catalão, Figo foi ídolo do clube nos cinco anos que jogou pelo Barça. No período, conquistou cinco títulos importantes: dois espanhóis (1998 e 1999), duas Copas do Rey (1997 e 1998) e uma Supercopa da Europa (1997). 

Em 2000, o Real pagou 61 milhões de euros, um recorde na época, para tirar Figo do Barcelona. E não se arrependeu. Pelo clube, o português conquistou os títulos espanhóis de 2001 e 2003 e a Liga dos Campeões de 2002, a última vez em que o Real levantou o principal troféu do Velho Continente. 
Ronaldo – Ronaldo chegou ao Barcelona ainda garoto. Tinha apenas 19 anos quando o clube catalão pagou US$ 17 milhões para tirá-lo do PSV. Foi apenas uma temporada em que ele rapidamente virou ídolo ao marcar 47 gols em 49 jogos e conquistar a Copa do Rey de 1997. Mas no ano seguinte foi para a Inter de Milão. 

Em 2002, logo após a Copa do Mundo, voltou para a Espanha, mas para jogar pelo Real Madrid. Embora tenha jogado por cinco anos no clube, nunca foi um ídolo incontestável. Alternou momentos em que foi ovacionado pela torcida com outros em que era muito criticado. Apesar dos altos e baixos, marcou 104 gols em 177 jogos e ajudou o clube a conquistar duas ligas espanholas em 2003 e 2007, além do Mundial de 2002. Neste ano, foi homenageado pelo Real Madrid no Santiago Bernabéu, onde recebeu um troféu.

(Post originalmente publicado no blog Planeta que Rola)

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