Escândalos envolvendo apostas e jogos arranjados como o que resultou nas 19 prisões desta segunda-feira infelizmente são bem comuns no futebol italiano e no resto do mundo. Relembre alguns casos que ficaram marcados na história do futebol.
No futebol italiano:
TOTONERO 1980:
O caso:
Descoberto pela polícia italiana em março de 1980, consistia na venda de resultados de partidas das Séries A e B da Itália em troca de dinheiro. O escândalo envolveu Milan, Lazio, Perugia, Bologna e Avellino, da Série A, e mais Taranto e Palermo, da Série B.
O resultado:
Milan e Lazio foram rebaixados para a Série B. Avelino, Bologna, Perugia, Palermo e Taranto começaram a temporada seguinte com menos cinco pontos em suas respectivas divisões. O presidente do Milan, Felice Colombo, foi banido do esporte enquanto o do Bologna, Tommaso Fabretti, foi suspenso por um ano. Dezoito jogadores também foram punidos com suspensões que variaram de três meses a seis anos. Entre eles Cláudio Pellegrini (Avellino - seis anos), Massino Cacciatori (Lazio - cinco anos), Enrico Albertosi (Milan - quatro anos), Bruno Giordano (Lazio), Lionello Manfredonia (Lazio), Carlo Petrini (Bologna) e Guido Magherini (Palermo), que pegaram três anos e seis meses. Além de Paolo Rossi (Perugia), cuja pena de três anos foi reduzida para dois, lhe dando a chance de disputar e ser um jogador decisivo na Copa da Espanha, em 1982.
TOTONERO 1986:
O caso:
Seis anos depois, um novo escândalo abalou a Itália. Mais uma vez descoberto pela polícia italiana, o escândalo envolveu resultados arranjados em troca de dinheiro de nove clubes das Séries A, B, C1 e C2 do Calcio. A armação de resultados aconteceu entre 1984 e 1986.
O resultado:
O Lanerossi Vicenza foi excluído da Série A na temporada seguinte, enquanto Perugia e Cavese foram rebaixados para a quarta divisão com menos dois e menos cinco pontos, respectivamente. Udinese (-9 na Série A), Cagliari (-5 na Série B), Lazio (-5 na Série B), Triestina (-1 na Série B e -4 na Série B no ano seguinte), Palermo (-5 na Série B) e Foggia (-5 na Série C1) foram punidos com a perda de pontos. Dezessete dirigentes e treinadores e outros 34 jogadores foram punidos com suspensões que variaram de um mês a cinco anos.
CALCIOPOLI OU MOGGIOPOLI:
O caso:
Descoberto em maio de 2006, o escândalo envolveu Juventus, Milan, Fiorentina, Lazio e Reggina, que foram acusados de manipular fraudulentamente resultados de jogos selecionando árbitros que lhe seriam favoráveis para as partidas. O escândalo veio à tona depois que foram divulgadas gravações do presidente da Juventus, Luciano Moggi, tentando influenciar na escolha dos árbitros para as partidas do seu time.
O resultado:
A Juventus teve os títulos de 2005 e 2006 cassados, foi rebaixada para a Série B e começou o campeonato do ano seguinte com menos nove pontos. Milan, Fiorentina, Lazio e Reggina se mantiveram na Série A, mas começaram a competição do ano seguinte com menos oito, 15, três e 11 pontos respectivamente. Outros 19 dirigentes e árbitros foram punidos com suspensões de três meses a cinco anos do futebol. Entre eles, os dirigentes Luciano Moggi (Juventus - cinco anos), Adriano Galiani (Milan - cinco meses) e os árbitros Massino De Santis (quatro anos), Pierluigi Pairetto (três anos e meio) e Gianluca Paparesta (três meses).
CALCIOSCOMMESSE:
O caso:
Descoberto no ano passado, o escândalo levou à prisão de 16 pessoas acusadas de participar de manipulação de jogos da Série B e de divisões inferiores. Entre os detidos estavam o ex-atacante do Lazio e da seleção italiana Giuseppe Signori, assim como os ex-jogadores da Fiorentina Mauro Bressa e da Sampdoria Stefano Bettarini e o capitão da Atalanta, Cristiano Doni. Também foram detidos Vittorio Micolucci e Vincenzo Sommese, do Ascoli, então na Série B, e donos de agências de apostas.
O resultado:
Acusados de envolvimento no escândalo, nove clubes perderam pontos para a temporada 2011-12: Atalanta (-6 na Série A), Ascoli (-6 na Série B), Benevento (-9), Cremonese (-6), Esperia Viareggio (-1), Piacenza (-04), Reggiana (-2), Spezia Calcio (-1), Taranto (-1). O Alessandria Calcio perdeu todos os pontos na terceira divisão e foi rebaixado para a quarta divisão, assim como o Ravenna. Verona (20 mil euros), Sassuolo (20 mil euros), Ascoli (50 mil euros), Cremonese (30 mil euros), Piacenza (50 mil euros), Calcio Portogruaro Summaga (20 mil euros), Ravenna (50 mil euros) e Virtus Entella (15 mil euros) foram multados.
Doni e Bressan foram banidos do futebol por três anos e seis meses. Signori foi banido por cinco anos. Outras 16 pessoas receberam suspensões que variam de um a cinco anos.
Desdobramentos:
As investigações da polícia sobre o caso, geraram novos desdobramentos com a prisão, em dezembro, de Doni e outros ex-jogadores como Luigi Sartor, Alessandro Zamperini, Nicola Santoni, Carlo Gervasoni e Filippo Carobbio. Graças a denúncia do zagueiro do Gubbio, Simone Farina, os policiais desvenderam um complexo sistema de apostas envolvendo pessoas de Cingapura, do leste europeu e da Itália com interesse em manipular resultados em toda a Europa. Nesta segunda, em mais um passo nas investigações, a polícia prendeu 19 pessoas acusadas de manipulação de resultados na Itália.
Outros casos pelo mundo:
MÁFIA DO APITO
O caso:
Denunciado pela revista "Veja" em outubro de 2005, consistia em "negócios" feitos por um grupo de investidores com o árbitro da Fifa Edílson Pereira de Carvalho (foto) para garantir resultados do Campeonato Brasileiro que haviam apostado em sites. No esquema, o empresário Nagib Fayad (foto abaixo), juntamente com outros três empresários ligados ao ramo dos bingos, combinava resultados em jogos apitados por Edílson, que receberia de R$ 10 mil a R$ 15 mil por partida. As apostas milionárias eram feitas em dois sites. Estima-se que o lucro da quadrilha tenha superado R$ 1 milhão no período. Outro árbitro, José Paulo Danelon, que apitou jogos da Série B, também é acusado de fazer parte do escândalo. As investigações apontam que ele seria o responsável por apresentar Edílson a Fayad.
O resultado:
Os 11 jogos apitados por Edílson no Brasileiro da Série A foram anulados e jogados novamente. Edílson foi suspenso e posteriormente banido do esporte. Ele alegou depois que só participou do esquema porque não tinha como honrar uma dívida de R$ 40 mil. Os jogos apitados por Danelon, removido do quadro de árbitros da Federação Paulista de Futebol e proibido de apitar jogos, não foram anulados, assim como as partidas apitadas pelos dois árbitros no Campeonato Paulista de 2005. Os dois juízes foram acusados de fraude, conspiração e crimes contra a economia. Fayad foi preso.
ESCÂNDALO IVENS MENDES:
O caso:
Em maio de 1997, o Jornal Nacional, da TV Globo, divulgou gravações de telefonemas que desvendariam um esquema de corrupção dentro da CBF supostamente envolvendo a venda de resultados de jogos e financiamento de campanhas políticas. O pivô do escândalo foi o presidente da Comissão Nacional de Arbitragem, Ivens Mendes. As gravações mostravam Mendes pedindo R$ 25 mil supostamente ao então presidente do Atlético-PR, Mario Celso Petraglia, e sugerindo que o seu clube seria beneficiado em uma partida contra o Vasco pela Copa do Brasil, vencida pelo Atlético por 3 a 1. Em outra gravação, a mesma voz oferecia ajuda financeira ao então presidente do Corinthians, Alberto Dualib, em troca de R$ 100 mil. Nos dois casos, o dinheiro seria utilizado na campanha de Mendes para deputado federal em 1998. Em seguida, Dualib declarou que seu envolvimento com Mendes era pessoal e não envolveria o Corinthians. Já Petraglia disse ter sido coagido por Mendes a prometer dinheiro para sua campanha, mas negou participação no esquema.
O resultado:
No dia seguinte à divulgação do escândalo, Ivens Mendes pediu afastamento do seu cargo. Embora se declarasse inocente, ele alegou que sua família estava sofrendo ameaças. Mendes morreria alguns anos depois. Petraglia e Dualib foram proibidos de representar seus clubes perante a CBF, mas isso não afetou o trabalho deles nas suas respectivas diretorias. O Atlético-PR foi punido com a perda de cinco pontos no Campeonato Brasileiro de 1997, que teve dois clubes a mais porque a CBF cancelou os rebaixamentos de Fluminense e Bragantino no ano anterior. A Subcomissão Especial criada na Câmara dos Deputados para investigar o assunto nunca chegou a concluir os trabalhos.
ESCÂNDALO ROBERT HOYZER:
O caso:
Em 2005, o árbitro Robert Hoyzer confessou ter participado de partidas arranjadas na segunda e na terceira divisões da Alemanha, além da Copa da Alemanha. O escândalo envolveu cerca de dois milhões de euros. O escândalo envolveu 13 partidas, sendo a mais importante delas entre o Paderborn e o Hamburgo pela primeira fase da Copa da Alemanha. O Hamburgo perdeu por 4 a 2, graças a dois pênaltis marcados por Hoyzer que foram muito questionados. Hoyzer foi denunciado por quatro árbitros. Em seguida, se descobriu que ele tinha encontros regulares em Berlim com três irmãos croatas que eram apostadores.
O resultado:
Hoyzer foi banido do futebol e pegou dois anos e meio de prisão. Outro árbitro envolvido, Diminik Marks, também foi banido e pegou um ano e meio de prisão. Os três irmãos croatas que orquestraram o esquema pegaram penas de um a três anos de prisão. O Hamburgo recebeu uma compensação de 2 milhões de euros pela eliminação na Copa da Alemanha. Os resultados das partidas foram mantidos.
L'AFFAIRE VALENCIENNES-OLYMPIQUE DE MARSEILLE:
O caso:
Em 1993, o presidente do Olympique de Marseille, Bernard Tapie, foi acusado de arranjar uma partida entre o seu clube e o Valenciennes pelo Campeonato Francês. O objetivo era fazer com que o Valenciennes perdesse a partida sem machucar nenhum jogador do Olympique, que logo em seguida jogaria e venceria a final da Liga dos Campeões da Europa contra o Milan.
Resultado: O Olympique não perdeu o título da Liga dos Campeões, mas perdeu o direito de disputar a Champions do ano seguinte, assim como o Mundial de 1993. O clube também perdeu o título da temporada 1992-93 da França. O clube acabou rebaixado no ano seguinte não pelo escândalo, mas por irregularidades nas suas finanças. Já Tapie foi preso acusado de ter sido cúmplice de corrupção e de ter subornado uma testemunha. Ele ficou dois anos na prisão.
GROBBELAAR:
O caso:
Em novembro de 1994, o ex-goleiro Bruce Grobbelaar foi acusado pelo tablóide britânico "The Sun" de arranjar partidas durante o período em que defendeu o Liverpool para beneficiar apostadores depois que foi divulgado um vídeo dele falando sobre partidas armadas. Ele foi acusado de corrupção junto com o goleiro do Wimbledom Hans Segers, o atacante do Aston Villa John Fashanu e o empresário malaio Heng Suan Lim.
O resultado:
Grobbelaar foi inocentado em novembro de 1997. Ele processou o "The Sun" por difamação e ganhou em primeira instância 85 mil libras. O jornal recorreu e a Câmara dos Lordes acabou decidindo que a reputação de Grobbelaar não foi manchada, obrigando o ex-goleiro a pagar os custos legais do tablóide, avaliados em 500 mil libras. Grobbelaar não pôde arcar com os custos e declarou falência.
ESCÂNDALO DAS APOSTAS NA INGLATERRA DE 1915:
O caso:
Em 2 de abril de 1915, os jogadores de Manchester United e Liverpool armaram uma partida entre as duas equipes disputada em Old Trafford. A partida acabou em 2 a 0 para os Red Devils que naquele ano lutavam contra o rebaixamento. Já o Liverpool estava no meio da tabela. Após o jogo, começaram a surgir denúncias de que uma grande quantidade de dinheiro foi apostada na vitória de 2 a 0 do Manchester. Ela pagava 7 libras para cada 1 apostada.
O resultado:
A Federação Inglesa descobriu que sete jogadores (três do Manchester e quatro do Liverpool) estavam envolvidos no esquema e os baniu do futebol. Os times não foram punidos porque a federação concluiu que o esquema foi montado exclusivamente pelos atletas. Com exceção de Sandy Turbull, morto na Primeira Guerra Mundial, os seis jogadores punidos acabaram anistiados em reconhecimento aos serviços prestados ao país durante o conflito. Turbull recebeu uma anistia póstuma. O Manchester acabou escapando do rebaixamento com os pontos conquistados naquela partida.
ESCÂNDALO DAS APOSTAS NA INGLATERRA NA DÉCADA DE 60:
O caso:
Os jogadores do Sheffield Wednesday David Layne, Peter Swan e Tony Kay, armaram uma partida contra o Ipswich Town para ganharem dinheiro com apostas.
O resultado:
Os três foram sentenciados a quatro meses de prisão. No campo esportivo, foram inicialmente banidos do esporte, mas em seguida a pena foi alterada para oito anos de suspensão.
ESCÂNDALO NA BUNDESLIGA:
O caso:
Descoberto em 1971, o escândalo envolveu a manipulação de 10 jogos do Campeonato Alemão. A manipulação de resultados foi revelada quando o presidente do Kickers Offenbach, Horst-Gregorio Canellas, mostrou uma gravação de áudio aos dirigentes da federação alemã e alguns jornalistas durante uma festa de aniversário na sua casa. Na fita, vários jogadores, incluindo Bernd Patzke e Manfred Manglitz, atletas da seleção da Alemanha Ocidental, se oferecem para ajudarem o Offenbach a não ser rebaixado em troca de dinheiro. Em seguida, foi descoberto que a partida Schalke 04 0 x 1 Arminia Bielefeld foi vendida pelos jogadores do Schalke.
O resultado:
Cinquenta e dois jogadores de Hertha Berlin, Stuttgart, Schalke 04, Arminia Bielefeld, Duisburg e Eintracht Brausnchweig, dois dirigentes e seis funcionários de clubes foram banidos do esporte. A Bundesliga revogou as licenças do Arminia Bielefeld e do Kickers Offenbach. O Offenbach foi rebaixado no campo, independentemente dos jogos manipulados. Já o Bielefeld foi rebaixado para a segunda divisão.
APITO DOURADO:
O caso:
O presidente do Porto Jorge Nuno Pinto da Costa e o ex-presidente do Boavista e da Liga de Futebol de Portugal Valentim Loureiro foram acusados em 2004 de tráfico de influência e coação sobre trios de arbitragem, assim como o pagamento de orgias com prostitutas para um possível benefício aos seus times.
O resultado:
Pinto da Costa e Valentim Loureiro foram denunciados por corrupção no esporte. Após julgamento, 13 acusados, entre eles Valentim e Pinto da Costa, foram condenados. Valentim perdeu o mandato e foi condenado a três anos e dois meses de prisão por abuso de poder e prevaricação. PInto da Costa foi condenado a dois anos e três meses de prisão por abuso de poder. Os dois apresentaram recursos e as penas foram suspensas. O processo ficou um ano parado e, consequentemente, os crimes de corrupção prescreveram.
SUBORNO NA BÉLGICA:
O caso:
Em 2005, diversos jogadores e os times do Lierse, La Louvière, Sint-Truiden, AEC Mons, Verbroedering Geel e Germinal Beerschot, foram acusados de receber dinheiro de Ye Zheyun, empresário chinês é acusado de arranjar partidas no Campeonato Belga para fazer apostas. As insinuações de que havia resultados armados começaram depois que aconteceram situações estranhas na Jupiler League como o time do Lierse ter entrado em campo duas vezes e inesperadamente com todos os seus reservas.
O resultado:
A Federação Belga foi muito criticada pela imprensa por não ter investigado a fundo os problemas no campeonato. Muitos jogadores e times foram acusados mas apenas o Lierse (rebaixado para a terceira divisão), um treinador (Paul Put, banido do esporte) e um jogador (Hasan Kacic, suspenso por dois anos) foram punidos. Mas logo em seguida o Lierse e Kacic apelaram da sentença e foram absolvidos. Ye Zheyun, que negou as acusações, é procurado pela Justiça. Hoje, ele estaria vivendo em algum lugar da China.
ABEDI PELÉ E OS 59 GOLS MARCADOS EM UM FIM DE SEMANA:
O caso:
Um dos maiores ídolos de Gana, o ex-atacante Abedi Pelé esteve envolvido num escândalo de suborno em 2007 envolvendo o Nania FC, clube de que é treinador e presidente, e outros três clubes num playoff da segunda divisão local. No mesmo fim de semana, o Nania derrotou o Okwawu United por 31 a 0 enquanto o Great Mariners bateu o Tud Mighty Jets por 28 a 0.
O resultado:
A Federação Ganesa de Futebol investigou as irregularidades e considerou que houve manipulação de resultados. Os clubes envolvidos foram rebaixados e Abedi e outros envolvidos foram punidos com multas ou suspensões. Sua esposa, Maha Ayew, foi banida do esporte.
(Post originalmente publicado no blog Planeta que Rola)