Pesquisar este blog

segunda-feira, 21 de março de 2011

Um herói que hoje vive na miséria e com problemas de alcoolismo

Quem não conhece o futebol ou não o acompanha há algum tempo provavelmente nunca ouviu falar de Jean-Marc Bosman. Mas o ex-jogador belga, hoje com 46 anos, é o responsável por hoje vários jogadores, dos maiores craques a muitos pernas de pau, receberem quantias milionárias de salário.
- Eu devo ser o mais famoso dos jogadores de futebol belgas, mas ninguém sabe quem eu sou!
Foi por sua causa que uma revolução começou nos anos 90 com a chamada Lei Bosman. Foi a partir de uma briga entre o seu então clube, o RFC Liège, em 1995, que Bosman foi até a corte da União Europeia para poder se transferir para o Dunkerque, da França. Na ocasião, o Liège não queria deixar o jogador sair do clube que detinha o seu passe mesmo que o seu contrato tivesse sido encerrado. A corte deu ganho de causa a Bosman iniciando uma nova era que terminaria com o passe no futebol.
Foi a partir dessa decisão que todo jogador em fim de contrato passou a ser livre para se transferir para outro clube. Com isso, os atletas ganharam mais poder nas negociações contratuais. Tudo por causa de Bosman. Hoje existem os tais direitos federativos, mas a relação não é tanto de escravidão como outrora.
Bosman foi, portanto, um herói, mas também um mártir. Passou a ser rejeitado pelos clubes até encerrar a carreira e hoje vive, ou melhor, sobrevive, na miséria em Liège. Recebe apenas 625 libras (R$ 1.695) por mês como ajuda de custo do governo. E por depender desse dinheiro, não pode viver com a mulher, Carine, e os filhos, Samuel e Martin, porque tem medo de ter o benefício cortado. Sua esposa vive em outra casa e também recebe um ajuda do governo de 250 libras (R$ 678).
Além das dificuldades financeiras, Bosman hoje ainda tem que lutar contra a depressão e o alcoolismo.
Em entrevista ao jornal inglês "The Sun", Bosman desabafa ao dizer que hoje Wayne Rooney só ganha 200 mil libras por semana por causa dele, que está na miséria.
- Tem sido muito, muito difícil. Eu ganhei no tribunal, mas sou o único quem pagou e pagou e pagou - disse. - As pessoas pensam que eu ganhei uma fortuna, mas o dinheiro que recebi da FIFPro (o sindicato dos jogadores) e a indenização estabelecida pelo tribunal foi engolida pelos advogados e despesas do contrato.
Depois de cinco anos de batalhas judiciais, Bosman acabou indo jogar no Charleroi, mas lá já sentia que tinha virado um pária por sua luta pela liberdade dos jogadores.
- Eles me pagaram apenas 650 libras (R$ 1.763) por mês porque eu era quem era. Eles pensaram que eu era um risco - disse Bosman, que depois parou de ser pago, mas anda jogou por dois anos "para se manter em forma".
Bosman recebeu uma série de nãos até encerrar a carreira.
- Meu advogado escreveu para cada clube na Bélgica, mas todos disseram: "Não, obrigado. Desejamos boa sorte ao monsieur Bosman, mas já temos jogadores" - disse o ex-jogador, que por falta de dinheiro viveria alguns anos depois na garagem da casa dos pais.
Na entrevista ao "The Sun", o ex-jogador conta que a comunidade europeia não queria mudar o sistema e mesmo a imprensa estava contra ele. Lutando contra tudo e contra todos, não resistiu e acabou se tornando dependente do álcool.
- A pressão do caso era muito grande. Meu advogado sabia que eu estava chorando sangue e disse que poderia parar a qualquer momento, mas era importante (continuar). Normalmente, quando você ganha um caso no tribunal, se sente livre, mas a mídia na Bélgica ficou contra mim depois do caso. Fiquei em depressão e comecei a beber mais e mais. No final, só ficava em casa bebendo vinho e cerveja.
Desde 2007, Bosman tem tomado antidepressivos e lutado contra o alcoolismo. Nos últimos anos, a companhia mais frequente era o labrador Freedom Fighter, que morreu há duas semanas.
- Meu cachorro era o meu mais leal amigo. Estou muito triste por tê-lo perdido.
Foi mais uma dor na vida do ex-jogador que garante que sua maior vitória ainda acontecerá.
- Minha vitória no processo foi grande, mas a maior vitória é a que eu terei contra o álcool.
Bosman disse ainda ao "The Sun" que fica satisfeito pela conquista dos jogadores. No entanto, gostaria de ter a sua luta reconhecida.
- Tenho meu lugar na história e tive uma longa batalha para conquistar isso. Não quero que tudo o que fiz na minha vida tenha sido por nada. Estou feliz pelos jogadores de futebol que ganham muito dinheiro. Não tenho inveja. Eu dei minha carreira para que os jogadores europeus não trabalhem como escravos. Só gostaria de ser reconhecido. As pessoas sabem que existe uma decisão Bosman, mas não percebem que tem um cara que deu tudo, que se tornou um alcoólatra (por causa dela). Como dizia Confúcio, nossa maior glória não é a de nunca cair, mas a de se levantar a cada vez que caímos.
(Post originalmente publicado no blog Planeta que Rola)

Nenhum comentário:

Postar um comentário