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terça-feira, 22 de junho de 2010

Domenech, um técnico perdido e sem comando

Nunca na história da França uma seleção nacional fez uma campanha tão vexatória numa Copa do Mundo quanto a de Raymond Domenech neste Mundial de 2010. Depois de entrar na festa com a mão de Thierry Henry, os Bleus se despediram pela porta dos fundos de forma melancólica sem uma única vitória em três jogos disputados.
A eliminação na primeira fase pode ser comparada à de 2002, quando os franceses sofreram com uma lesão de Zidane e caíram também na primeira fase, mas sem marcar um único gol. Contudo, há oito anos a equipe só protagonizou um vexame dentro de campo e não uma sequência de atitudes lamentáveis que fizeram até o presidente Nicolas Sarkozy vir a público comentar a crise na equipe francesa.
Domenech já chegou na África do Sul demitido. Pouco antes da convocação final, a Federação Francesa anunciara que o ex-zagueiro Laurent Blanc, técnico do Bordeaux e campeão mundial em 98, assumiria o time depois da Copa.
O treinador, porém, podia ter saído há dois anos, quando a França se despediu da Eurocopa da Áustria e da Suíça com uma campanha praticamente igual a desta Copa do Mundo: um empate, duas derrotas, apenas um gol marcado e seis gols sofridos, dois a mais do que na África do Sul. O penúltimo lugar na fase final da Euro era a senha para novos ares de um time que já estava envelhecido e sofria com a falta de talento desde a aposentadoria de seu maior craque, Zinedine Zidane.
Mas Domenech foi mantido e chegou na África do Sul com sua seleção sob a o estigma de ter se classificado injustamente por causa do lance do gol de Gallas que Henry ajeitou a bola com a mão, embora saibamos que o futebol não é tão matemático assim a ponto de sabermos que se o gol tivesse sido anulado a Irlanda é que estaria na Copa. A desconfiança só aumentou quando no último amistoso antes do Mundial, os franceses perderam para a China por 1 a 0. Sinal de alerta ligado e os problemas começaram a surgir. (Leia mais: Crônica de um au revoir anunciado)
Na África, enquanto a França não conseguia jogar dentro de campo a crise começava a crescer do lado de fora. Os rumos de que havia uma divisão no grupo, sendo um deles liderado pelo capitão Evra e pelos experientes Anelka e Gallas e outro formado pelos franceses que jogam no país começaram a crescer na imprensa europeia. O primeiro grupo queria, entre outras mudanças, que Thierry Henry jogasse o tempo todo e barrar jogadores como Govou e Gourcuff. Mas outros contestavam e nisso a França foi se desmoronando.
Para armar o time, Domenech mordia e assoprava cada grupo do seu rachado elenco. Colocou Henry apenas por 15 minutos e no lugar de Anelka na estreia contra o Uruguai (0 a 0), mas Govou foi titular, assim como Gourcuff. Nada demais, principalmente porque o jogador do Barcelona não fizera uma boa temporada. Mas no jogo seguinte chamou a atenção o não aproveitamento de Henry em sequer um minuto da derrota para o México por 2 a 0.
Mesmo precisando da vitória, Domenech colocava Gignac e Valbuena enquanto o astro francês congelava no banco de reservas. No intervalo daquela partida, a crise se agravou quando Anelka xingou o treinador. Os palavrões ganharam a manchete do "L'Equipe" e correram o mundo. A crise explodia e o atacante do Chelsea era expulso da seleção.
Os dias se passaram e Evra, depois de anunciar que havia um traidor no elenco, liderou um motim durante um treino após discutir asperamente com o preparador físico Robert Duverne. O caso leva o chefe da delegação, Jean-Louis Valentin a pedir demissão dizendo-se envergonhado com o time.
Nesta terça, a França se despediu da Copa com um time absolutamente alheio ao Mundial e devastado pela crise interna. Domenech tirou Evra e outros jogadores na última partida e mostrou que jamais teve o comando da seleção francesa. (Leia mais: Domenech e a grosseria com Parreira)
Como se não bastassem os problemas extra-campo, a França nunca teve padrão tático, jogadas e diálogo dentro de campo. Era um arremedo de alguns bons jogadores que brilharam nos clubes com outros muito fracos que não tinham condição de jogar no time. Ficou claro que Benzema e Nasri, preteridos na convocação final, fizeram falta.
Perdido, Domenech escalou o time sempre de olho nos grupos dentro da sua equipe e não na formação tática. Não agradou a ninguém e deixa o comando dos Bleus da pior forma possível. A história se lembrará dele como o técnico vice-campeão do mundo de 2006, mas ele também será lembrado como o treinador que comandou o time nos dois maiores vexames de sua história: a Euro-2008 e a Copa-2010.
Foram seis jogos e nenhuma vitória. E a França segue sem vencer nas duas principais competições entre seleções desde a aposentadoria de Zidane.
(Post originalmente publicado no blog Planeta que Rola)

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