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terça-feira, 24 de abril de 2012

Chelsea x Barcelona: Quando saber se defender é uma arte

Barcelona é o melhor time do mundo, o que encanta, o que joga o melhor futebol, mas nem por isso é impossível derrotá-lo. A Inter de Milão mostrou isso há dois anos, quando saiu do Camp Nou classificada apesar da derrota por 1 a 0. Hoje a nova lição foi dada pelo Chelsea. A análise das causas (prefiro causas e não erros) que levaram o time de Pep Guardiola a falhar nesta temporada da Liga dos Campeões da Europa eu guardarei para um futuro post. Neste aqui quero me ater aos méritos do Chelsea no empate em 2 a 2 na Catalunha que o garantiu em sua segunda final da história.
Quatro anos depois da fatídica disputa de pênaltis que deu ao Manchester United o título europeu, o time inglês está novamente numa decisão. Mais uma vez com um técnico interino. Antes era o israelense Avram Grant. Agora é o italiano Roberto di Matteo.
Foi a vitória de um time improvável, que começou errado, teve problemas de relacionamento entre as estrelas e o antigo técnico André Villas-Boas, jogadores que não renderam bem em boa parte da temporada (Terry e Lampard, por exemplo), mas que se agigantou na reta final e, depois de ver os seus medalhões derrubarem o treinador português, comprou a proposta de Di Matteo e emendou uma série de vitórias e boas partidas que levaram a equipe à duas decisões. Sim, porque antes de viajar para Munique no dia 19 de maio, o Chelsea fará, em Wembley, a decisão da Copa da Inglaterra contra o Liverpool no dia 5 de maio.
Se o Barcelona é o time certinho, uma máquina de jogar futebol que funciona em harmonia e parecia infalível, o Chelsea é um time humano, demasiado humano. E saber de sua inferioridade foi uma arma contra uma equipe que parecia formada por semideuses.
Assim começaram a surgir os heróis. Um deles foi o brasileiro Ramires, que fez duas ótimas partidas e ainda marcou um golaço no Camp Nou. É hoje o melhor jogador do clube inglês. Outro foi Didier Drogba. O marfinense estava em baixa, marcou apenas cinco gols no Campeonato Inglês e tem apenas 11 na temporada. Some isso ao fracasso na Copa Africana de Nações pela Costa do Marfim e Drogba já era quase um ex-jogador em atividade. Sua saída do clube chegou a ser ventilada na imprensa. Mas o atacante de 34 anos fez um gol fundamental para colocar os Blues na decisão da Copa da Inglaterra, outro no jogo de ida em Stamford Bridge contra o Barcelona e um terceiro "gol" ao "comer grama" no Camp Nou, correr como um lateral de fôlego ilimitado, marcar como um volante incansável e se doar pelo time inglês.
Um outro herói improvável foi Fernando Torres. Quando o Barcelona vencia por 2 a 1, já havia perdido um pênalti com Messi e acertado uma bola na trave. Para quem assistia à partida, o gol parecia iminente. Principalmente diante do domínio catalão. Foi nessa situação que ele entrou em substituição a Drogba. O atacante espanhol chegou a ficar nesta temporada 26 horas sem marcar um gol. Uma eternidade para um artilheiro que o fez ficar de fora de algumas convocações do técnico Vicente del Bosque. O jejum foi encerrado, mas a sequência de gols não foi não foi mantida. Além disso, os míseros nove gols marcados com a camisa do Chelsea mostraram que Roman Abramovich exagerara ao pagar 50 milhões de libras para tirá-lo do Liverpool onde era ídolo até trocar de camisa. 
Nesta quarta, Torres pode ter pago parte dessa dívida ao marcar o gol de empate nos acréscimos e começado a entrar para a história dos Blues. Foi o oitavo gol que El Niño fez contra o Barcelona.
Semelhanças com a Inter de Mourinho
O jogo de pura doação de Drogba me fez lembrar o de outro atacante africano no Camp Nou. Samuel Eto'o abriu mão da artilharia pela sua equipe e saiu premiado com a classificação e o título europeu há dois anos. Outra semelhança com a Inter de Milão de José Mourinho, que eliminou o Barcelona na semifinal de 2010, foi a grande atuação de seus goleiros. Lá, o brasileiro Júlio César. Hoje, Petr Cech, que evitou pelo menos dois gols de Messi e fez outras importantes defesas.
Tanto a Inter quanto o Chelsea usaram da sua postura defensiva como antídoto para parar o ataque do Barcelona. Se há dois anos, Mourinho colocou o seu time para correr atrás do toque de bola catalão, hoje Di Matteo fez diferente porque percebeu que esse time atual de Guardiola tem um defeito. O treinador já dera uma pista na coletiva na véspera da partida ao afirmar que era preciso expor os pontos fracos do Barcelona. E Di Matteo descobriu e expôs um deles.
O atual Barcelona concentra demais o seu jogo pelo meio. Di Matteo percebeu isso e congestionou o seu time entre as linhas da grande área, dando as pontas para o time catalão, que por ser de baixa estatura, não teria como cruzar a bola na área. E isso nunca fez parte do jogo catalão. Em alguns momentos do jogo, o Chelsea chegou a ter nove jogadores entre a meia lua e a pequena área. Congestionando os espaços, o Barça não conseguiu tocar a bola como costuma fazer. Tinha a sua média histórica de posse acima de 70%, mas pouco chegava, pouco finalizava, outro problema do time nesta temporada. Foi aí que o Chelsea ganhou o confronto.
A culpa dessa limitação não é de Guardiola. Ele simplesmente não podia contar que Pedro caísse tanto de produção e David Villa tivesse uma séria lesão durante o Mundial de Clubes em dezembro que o tiraria da temporada. Eram eles que faziam com Messi esse "tridente" que abria o jogo. Sem os dois, Cuenca e Tello passaram a jogar mais, porém são dois meninos ainda em transição do time B para a equipe principal. Iniesta também foi algumas vezes escalado no setor, mas ele não rende a mesma coisa do que quando está no meio-campo tabelando com Xavi, que, por sua vez, sente falta dessa parceria.
Sem soluções, o Barça passou a depender mais do talento de Lionel Messi, que não fez uma boa semifinal, apesar da jogada do gol de Iniesta e de alguns outros lances criados e bolas na trave.
O mérito, no entanto, é do Chelsea que soube se defender com precisão e foi mortal quando foi ao ataque, algo simbolizado na frieza de Fernando Torres na hora de finalizar. 
 - É um dos melhores momentos que eu já senti com a camisa do Chelsea - resumiu o experiente Frank Lampard.
Foi assim que o Chelsea manteve a sua invencibilidade contra o Barcelona de Guardiola. Agora são quatro jogos, com três empates e uma vitória. O time inglês é o único que o técnico enfrentou no comando do Barça e não venceu.
Sete finais em oito anos
Um momento único para o Chelsea e mais uma demonstração de força do futebol inglês. Quando se comentava que o futebol do país estava decadente depois das eliminações de Manchester United e Manchester City na primeira fase, o Chelsea cresceu para representar com grandeza a Premier League e colocar um clube da terra da rainha na final pela sétima vez em oito anos. Desde 2005, a única vez em que não houve um time inglês na decisão foi em 2010, quando a Inter de Milão derrotou o Bayern de Munique.
Neste período o Liverpool foi campeão (2005) e vice (2007), o Manchester United foi campeão (2008) e vice (2009 e 2011), e Chelsea (2008) e Arsenal (2006) também foram vice.
Agora é pensar na final contra Bayern de Munique ou Real Madrid. Uma decisão que o Chelsea novamente terá que se superar pois terá quatro desfalques certos: Ivanovic, Terry, Ramires e Raul Meirelles, todos suspensos. O zagueiro Cahill, que saiu machucado, também não tem presença assegurada. Será mais uma oportunidade para o Chelsea mostrar que é um time de coração.
Barcelona 2 x 2 Chelsea
Local: Camp Nou
Cartões amarelos: Iniesta e Messi (Barcelona), Lampard, Mikel, Raul Meirelles, Ramires e Cech (Chelsea)
Cartão vermelho: John Terry (Chelsea)
Barcelona: Victor Valdés, Mascherano, Piqué (Daniel Alves) e Puyol; Busquets, Xavi, Iniesta e Fàbregas (Keita), Cuenca (Tello) Messi e Alexis Sanchez. Técnico: Pep Guardiola.
Chelsea: Cech, Ivanovic, Cahill (Bosingwa), Terry e Ashley Cole; Raul Meirelles, Mikel, Lampard, Ramires e Mata (Kalou); Drogba (Fernando Torres). Técnico: Roberto di Matteo. 
(Post originalmente publicado no blog Planeta que Rola)

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