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sábado, 30 de abril de 2016

Ranieri perto do maior título da carreira

Claudio Ranieri nunca foi exatamente um técnico brilhante. Por mais que tivesse passado por grandes clubes na carreira (Atlético de Madrid, Chelsea, Juventus, Roma e Inter de Milão, por exemplo), jamais conquistou títulos de grande expressão pelos clubes que passou. Sua contratação pelo Leicester City era uma aposta arriscada. Principalmente porque o seu trabalho anterior tinha sido uma vexatória passagem pela seleção grega em que foi demitido com menos de seis meses de trabalho.
Assim que Ranieri foi anunciado em julho de 2015, o Leicester City foi criticado pela imprensa local. Principalmente porque o clube trocara o treinador que livrara o time do rebaixamento, o polêmico Nigel Pearson, por um técnico que meses antes comandara uma seleção que perdera para a modestíssima Ilhas Faroe.
Mas Ranieri e os jogadores deram liga. O grupo comprou a ideia do treinador de adotar um futebol baseado em um sistema defensivo forte, uma especialidade do italiano, e muita velocidade no contra-ataque. Raras vezes o Leicester propôs o jogo nesta temporada (uma delas foi na goleada da semana passada sobre o Swansea por 4 a 0), poucas vezes o time venceu por uma diferença superior a um gol (aconteceu em nove das 23 vitórias da equipe no ano).
O Leicester é o time do 1 a 0, do jogo defensivo, mas é possível ver beleza nisso tudo. Porque é um time que está construindo uma história épica na temporada. Porque é um time que cresceu junto com o seu treinador. Se Ranieri estava em baixa, nomes como Mahrez, Jamie Vardy, Kanté, Morgan e Drinkwater não eram propriamente famosos. O goleiro Kasper Schmeichel era mais conhecido por ser filho do velho Schmeichel, lendário goleiro do Manchester United.
O sucesso do Leicester se transformou no sucesso de todos. Drinkwater e Vardy foram convocados para a seleção inglesa. Pode-se dizer hoje que Vardy é titular absoluto do time de Roy Hodgson, pois entrou no time com muita personalidade e fazendo gols. Mahrez já fazia parte da seleção da Argélia, mas era pouco conhecido e disputou apenas um jogo na Copa do Mundo do Brasil em 2014. Já Kanté foi convocado pela primeira vez para a seleção francesa e pode até disputar a Eurocopa. Todos subiram de produção com Ranieri, enquanto o técnico italiano se encontrou com eles.
O treinador conta que não sabe se pensou ou quando imaginou que esse time tinha chance de lutar pelo título e poderia até conquistá-lo com algumas rodadas de antecedência, algo que acontecerá se o time vencer neste domingo o Manchester United, em Old Trafford. Para ele, a tônica sempre foi um jogo de cada vez, um desafio por vez.
- Meu foco sempre foi na próxima partida e depois na próxima partida. E checar muito bem a nossa atitude e a maneira como jogamos a cada partida. Para mim, toda a temporada foi uma questão de consistência. E estou muito feliz por essa consistência – explica o técnico, que não compreendia como o time brigou contra o rebaixamento na temporada passada.
- Eu não entendi o que aconteceu na temporada passada quando depois daquela vitória sobre o Manchester United (5 a 3, em setembro de 2014), houve uma sequência de derrotas (11 em 13 jogos). Por que? O que aconteceu? – disse.
No texto intitulado “Nós não sonhamos” que escreveu para o “Player’s Tribune”, Ranieri revelou que em seu primeiro contato com o elenco via muita qualidade nos jogadores. Alguns precisavam de disciplina tática, outros de liberdade. Ranieri deu isso a eles. E exigiu apenas uma coisa: que cada um jogasse pelos seus companheiros de time.
“Somos uma equipe pequena, então temos que lutar com todo nosso coração, com toda nossa alma. Eu não quero nem saber o nome do oponente. Tudo o que eu quero é que vocês lutem. Se eles forem melhores do que nós, ok. Parabéns. Mas eles têm que mostrar para a gente que são melhores”, escreveu.
FAZENDO A PIZZA
O time entendeu e as vitórias começaram a vir. Mas uma coisa ainda preocupava o treinador. A defesa, que frequentemente tomava gols. Nos 11 primeiros jogos, pelo menos uma vez o gol de Schmeichel foi vazado. Foi quando ele contou a já famosa passagem da pizzaria.
Antes do jogo contra o Crystal Palace no dia 24 de outubro, Ranieri prometeu uma pizza aos jogadores se eles conseguissem não levar um gol. O Leicester ganhou por 1 a 0 e o técnico cumpriu a promessa. Levou os atletas para a pizzaria, mas não os deixou simplesmente sentar e pedir a pizza.
“Eu disse: Vocês tem trabalhado por tudo. Vocês vão trabalhar pela sua pizza também. Nós mesmos as faremos. Entramos na cozinha com a massa, o queijo e o molho. Fizemos tudo. Estava muito bom, também. Comi vários pedaços. O que eu posso dizer? Sou italiano. Adoro minha pizza e minha pasta”.
Depois daquele episódio, o Leicester conseguiu mais 15 jogos sem levar gol. Ranieri tinha conseguido o seu objetivo.
- Esse tipo de união numa era globalizada tem sido muito difícil. Antigamente, os jogadores de um clube inglês eram todos britânicos. Então era mais fácil ter união. Antes da comunicação virtual, os membros dos times ficavam mais juntos. Naquela época, uma ou duas vezes por semana, o time saia para beber, o que talvez não seja recomendável do ponto de vista físico, mas era interessante para a união. Hoje, com a comunicação virtual e um elenco formado por jogadores de 15 países diferentes tem sido difícil conseguir essa união – diz o jornalista Tim Vickery, da “BBC”, que elogia o trabalho de Ranieri em conseguir formar este grupo unido.
- A construção de uma identidade coletiva nesse contexto é mais difícil. O Leicester está mostrando que, apesar desta tendência, ainda é possível construir uma unidade de um elenco multicultural.  
Para o jornalista James Nursey, que cobriu o Leicester em toda a temporada para o “Daily Mirror”, Ranieri tem muitos méritos no eventual título do clube.
- O Leicester tem demonstrado o valor de um time consistente e com um bom espírito de equipe. O técnico também tem muito crédito por sua humildade e personalidade. Ele não tem sido um ego-maníaco como um monte de treinadores de renome que tendem a gostar de dar o crédito somente para si.
Ranieri conta que sua filosofia é simples. Não quer ver os jogadores relaxados. Toda a partida é importante e todos devem lutar pela vitória a cada segundo. Não existe sonho, mas trabalho duro.
- Quando encerramos uma partida, olhamos o que fizemos bem e o que fizemos de errado e tentamos melhorar. Essa é a minha filosofia de futebol. Não culpe os jogadores porque todo mundo pode cometer erros. É preciso trabalhar para melhorar o que está errado.
Para Ranieri, o Leicester está dando esperança aos jovens jogadores que alguma vez na vida ouviram que eles não eram bons o bastante. Afinal, Vardy trabalhou numa fábrica e jogou na sétima divisão inglesa, Kanté já esteve na terceira divisão da França, enquanto Mahrez jogou na quarta. Agora todos estão perto do título da Premier League.
- Quando eu disse que 40 pontos eram importantes é porque eram importantes. Eu disse: 39 pontos até o Natal. Agora, vamos lutar por mais 40 pontos até o fim da temporada. Depois veio a vaga na Liga dos Campeões, ok, vamos seguir em frente. Agora estamos aqui e é o momento certo de dizer: Ok, vamos continuar e tentar vencer a liga. É nesta temporada ou nunca mais - encerrou.
Abaixo, torcedores do Leicester agradecem Ranieri e emocionam o treinador:
(Post originalmente publicado no blog Planeta que Rola)

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