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terça-feira, 11 de outubro de 2011

Konrad Koch, o Charloes Müller alemão

Cena do filme 'Lições de um sonho', com Daniel Brühl, no centro, no papel de Konrad Koch - Reporodução

Ele desembarcou num país que apreciava outros esportes com uma bola de futebol e algumas ideias na cabeça. Acabaria se tornando um pioneiro na disseminação do esporte mais apaixonante do planeta (me desculpem, amantes de outras modalidades). Essa poderia ser a história de Charles Miller, o paulista que depois de viver um tempo na Inglaterra voltou ao Brasil para se tornar o pioneiro na introdução do futebol no país. Mas é também a história de Konrad Koch, o professor que viveu parte de sua vida na Inglaterra e voltou ao país em meio ao Império alemão no século XIX para se tornar o pai do futebol tricampeão do mundo e que hoje tem uma liga extremamente bem sucedida com estádios sempre abarrotados de apaixonados torcedores.

A história de Koch e de como ele virou o pioneiro na introdução de um esporte dos então odiados ingleses na Alemanha pode ser vista no bom filme “Lições de um sonho” (Der ganz große Traum), em cartaz no Festival do Rio.

Com uma narrativa muito parecida com a de “Sociedade dos Poetas Mortos” (1989), o filme começa a partir do retorno de Konrad, vivido por Daniel Brühl, de “Adeus, Lênin” (2003), “O ultimato Bourne” (2007) e “Bastardos Inglórios” (2009), a Alemanha. Depois de uma temporada na Universidade de Oxford, ele chega para dar aulas de inglês para os alunos de uma escola só para meninos em Braunschweing. Os alunos, porém, têm muito preconceito contra a língua, pois foram criados por seus pais e educados na escola para odiarem a Inglaterra, sua cultura e seus costumes. Eles são preparados com uma disciplina muito rígida e o objetivo de um dia invadir as ilhas britânicas.

Diante de tamanha hostilidade, Konrad resolve adotar uma medida drástica. Usar o futebol para ensinar a língua inglesa e ao mesmo tempo dar lições de companheirismo, respeito e união aos garotos.

O verdadeiro Konrad Koch - Reprodução da internet
É claro que eu não estou estragando o filme dirigido por Sebastian Grobler se eu disser que no fim a tática de Koch será bem sucedida, apesar dos percalços que vão da resistência das crianças ao combate de forças conservadoras e contra toda e qualquer novidade da escola. Com ele, o futebol rapidamente vai ultrapassar a ginástica como o esporte número 1 na Alemanha.


Natural de Braunschweing, Konrad Koch era considerado um excelente professor que tentou educar seus alunos sobre a base do humanismo de Wilhelm von Humboldt e que tentava passar aos seus alunos os exemplos de beleza e da grandeza dos valores da Grécia Antiga. Foi no outono de 1874 que ele comandou o que é por muitos considerado o primeiro jogo de futebol em solo alemão. A partida teve a participação dos estudantes da escola Martino-Katharineum, tradicional colégio da cidade fundado em 1415.

O único porém nessa história é que alguns defendem que o primeiro jogo teria ocorrido um pouco antes, em abril do mesmo ano, em Dresden, envolvendo jovens do Dresden English Football Club.

Apesar da contestação, a prova de que Koch é considerado um pioneiro está na homenagem feita em 2006, pouco antes da abertura da Copa do Mundo da Alemanha, com o descerramento de uma placa na cidade de Braunschweing lembrando o feito.

A primeira partida foi jogada pelos alunos sem muita explicação. Eram apenas garotos correndo atrás de uma bola num espaço com as traves.

“Foi apenas um bom jogo de futebol da Inglaterra com eles em campo. Dei-lhes algumas regras importantes e logo vimos o garoto alemão no jogo inglês. Embora inicialmente eles não tenham jogado bem, eles logo mostrariam ansiedade, inteligência e prazer (pelo jogo)”, escreveu na época o professor, quem em 1875 faria o primeiro livro de regras do futebol da Alemanha.


As crianças alemães jogando com as inglesas na cena final do filme - Reprodução da internet
Apesar do sucesso quase instantâneo, o futebol ainda era visto com muito preconceito no início pelos alemães, que o chamavam de doença inglesa, de jogo imoral e teve o seu exercício inicialmente proibido em vários clubes alemães. Esses desafios e o preconceito são bem descritos em “Lições de um sonho”. As poderosas famílias alemãs não queriam ver os seus filhos praticando um esporte considerado anárquico, que aproximava e igualava os ricos com os pobres. E muitos estudantes eram expulsos das escolas se fossem flagrados jogando futebol. Na Baviera, por exemplo, região onde hoje fica o mais bem sucedido clube alemão, o Bayern de Munique, o esporte foi proibido até 1912.

Mas a resistência foi vencida com a rápida popularização do jogo. Já na década de 1880, clubes para a prática do esporte começaram a surgir em Berlim, Hamburgo e Karlsruhe. A hoje capital alemã era naquela época o centro do futebol alemão, onde surgiu o primeiro clube de futebol do país, o BFC Germania 1888. Em 1890, era fundada a federação alemã do jogador de futebol. Em janeiro de 1900, com 28 membros, acontecia o primeiro encontro da Associação de Futebol da Alemanha, em Leipzig.

Assim, o futebol alemão começava a se organizar. Hoje, a Bundesliga, como é chamado o Campeonato Alemão, é uma das principais do mundo. Só na temporada passada, a média de público foi de 42.101 pagantes, a maior do futebol mundial, a frente até da Premier League inglesa, que tem 35.283 pagantes de média, e só abaixo da NFL, a liga de futebol americano dos Estados Unidos que têm média de 66.953 pagantes. Tudo graças a persistência e paixão do professor Konrad Koch pelo futebol, cuja história é muito bem contada em “Lições de um sonho”.

“Lições de um sonho” ainda vai ser exibido mais duas vezes no Festival do Rio. Se você quiser assistir, ele vai passar no Kinoplex Fashion Mall 2, no domingo, às 16h30m e 21h30m.


(Post originalmente publicado no blog Planeta que Rola)

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