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domingo, 13 de maio de 2012

O último capítulo da era Guardiola

Foram quatro anos, 13 títulos em 18 disputados e uma marca de futebol-arte inigualável deixada por Pep Guardiola. Foi o maior carnaval que o torcedor do Barcelona já viu. Mas até ele tem que ter o seu fim. E o ponto final da era mais gloriosa da história do clube pode se encerrar da mesma forma que começou: conquistando um título. Nesta sexta-feira, o Barcelona faz o seu último jogo da temporada na decisão da Copa do Rey, às 17h (de Brasília), contra o Athletic Bilbao, no estádio Vicente Calderón, em Madri.
Quis o destino que o ponto final da era Guardiola fosse cercado de simbolismos. Não é apenas porque é um jogo que vale um título que só tornaria ainda mais favorável a estatística daquele que é o técnico mais vitorioso da história do time catalão, ultrapassando Johan Cruyff, que conquistou 11 títulos entre 1988 e 1996. Ele também é importante por ser em Madri, cidade em que o seu Barcelona teve algumas das mais memoráveis apresentações jogando contra o Real. Será ainda contra um time treinado pelo argentino Marcelo Bielsa, uma das influências do jovem Guardiola, 41 anos, que sempre o citou como exemplo pelo futebol ofensivo praticado por El Loco em suas equipes.
Mas quando a bola rolar, a admiração de Guardiola pelo argentino ficará apenas do lado de fora de campo e os jogadores do Barça vão querer ganhar um título para o seu treinador. Enquanto isso, ao seu lado estará o futuro técnico. O auxiliar Tito Vilanova será promovido e terá a ingrata missão de comandar a equipe na próxima temporada.
A posição de Tito é desde já desconfortável, mas ao mesmo tempo ele foi corajoso em aceitar comandar um time em que se ele tiver sucesso muitos vão dizer que assumiu a equipe montada por Guardiola. Se fracassar, o discurso será o velho: "É tão ruim que não conseguiu ganhar nada com a equipe de Guardiola". Tito ainda é uma incógnita no Camp Nou. Embora uma enquete do jornal "Sport" o apontasse como o segundo favorito para ocupar o lugar do atual técnico (atrás de Bielsa), na Catalunha ele ainda divide opiniões. Nesta quinta, Guardiola disse que foi ele mesmo que avisou a Tito que ele seria o futuro treinador. O técnico é também o principal avalista do auxiliar, que pediu pessoalmente ao presidente Sandro Rossell que efetivasse Tito. O dirigente pretendia ir ao mercado e o nome de Bielsa era o mais forte até então.
Para continuar vencendo, o Barcelona aposta numa relação de cumplicidade entre o campo e a comissão técnica. Os jogadores gostam de Tito, que já havia trabalhado com muitos deles na base. Inclusive Lionel Messi, o craque que virou o melhor jogador do planeta eleito três vezes pela Fifa sob o comando de Guardiola. A torcida se preocupa, no entanto, com a inexperiência e até mesmo a timidez de Tito para comandar a equipe.
Saída anunciada em abril
Mas se nada der certo, a imprensa da cidade não descarta o retorno de Guardiola após um ano sabático. Nesta quinta, ele voltou a deixar claro que no momento não pretende assumir nenhum clube.
- Preciso recarregar as baterias e a mente. Quando estiver preparado e se algum clube me quiser e me seduzir, voltarei a treinar - disse o técnico em sua última coletiva no Barcelona.
Pep anunciou a sua saída no dia 27 de abril. Foi apenas uma formalidade, pois a decisão já estava tomada e anunciada internamente desde o fim do Mundial de Clubes em dezembro, quando o Barça goleou o Santos por 4 a 0. A justificativa era o desgaste e o cansaço de quatro anos comandando aquele que passou a ser considerado o maior time do mundo. A admissão de que estava esgotado não surpreende, pois Guardiola sempre foi visto como um técnico de muita entrega ao seu trabalho. E as fotos do tempo em que assumiu comparadas com as suas feições de hoje são a prova registrada do seu desgaste.
- Quatro anos são uma eternidade e desgastam muito. Lamento profundamente ter perdido a energia necessária para continuar - disse o técnico no dia que anunciou o adeus.
Guardiola deixa no Barcelona um legado de bom futebol aliado à conquistas. Seus times em quatro anos chegaram a duas semifinais de Liga dos Campeões e foram duas vezes campeões europeus (2009 e 2011). Quando entrar em campo logo mais, exibirá uma estatística de 181 vitórias, 47 empates e 21 derrotas em 246 partidas. Seu Barcelona marcou 635 gols e sofreu apenas 181. Nada mal para um técnico que começou no time principal do clube após uma passagem pelo Barça B com duas derrotas para o Wisla Cracóvia e o Numancia nos três primeiros jogos.
Conquistou títulos, quebrou recordes e revelou jogadores. Foram 22 atletas das canteras aproveitados. Entre eles Pedro Rodriguez, que será sempre grato ao técnico.
- Seu adeus é doloroso, mas devemos respeitá-lo. Agora queremos ganhar a Copa do Rey para dedicar a ele - disse o atacante.
E "coragem" é só o que o técnico pede no seu último jogo. Sempre atacante e mantendo o estilo inconfundível do Barça de posse de bola e triangulações: 
- Temos que atacar o quanto pudermos. Temos que terminar a partida com o sentimento que fizemos o que deveríamos ter feito. É o último jogo da temporada e é necessário dar tudo o que temos - afirmou o treinador, que também foi perguntado sobre a final da Liga dos Campeões e o título do Chelsea, que eliminou os catalães na semifinal.
- Gostaria de estar em Munique, mas o futebol te dá e te tira muitas vezes. É preciso parabenizar o Chelsea pela sua grande conquista.
Sobre a final desta sexta, muitos elogios ao Bilbao.
- O Athletic é uma equipe com alma. Será uma final terrivelmente dura. Eles são um time jovem e muito intenso. Não vão nunca deixar de lutar. Sabem como jogar um bom futebol, fazem isso como um propósito. Imagino que ele (Bielsa) preparou o seu time e veremos se a equipe será capaz de manter a posse de bola. Não será fácil.
Pode até não ser fácil, mas o torcedor do Barcelona só espera que a era Guardiola deixe como impressão final um resumo de tudo o que o treinador ajudou a construir de positivo para a história do clube e contribuiu para a história do futebol.
Barcelona x Athletic Bilbao
Local: Estádio Vicente Calderón, em Madri
Árbitro: Fernández Borbalán
Horário: 17h (de Brasília)
Transmissão: Esporte interativo
Barcelona: Pinto, Montoya, Piqué, Mascherano e Adriano; Busquets, Xavi e Iniesta; Pedro, Messi e Alexis Sanchez. Técnico: Pep Guardiola.
Athletic Bilbao: Iraizoz, Iraola, Javi Martinez, Amorebieta e Aurtenetxe; Iturraspe, Ander e De Marcos; Susaeta, Llorente e Muniain. Técnico: Marcelo Bielsa.
(Post originalmente publicado no blog Planeta que Rola)

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