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terça-feira, 5 de janeiro de 2016

O que esperar de Zidane como treinador

Zinedine Zidane foi um dos maiores jogadores da história do futebol. Foi um dos grandes ídolos do Real Madrid e ajudou o time espanhol a conquistar o título europeu de 2002 na era que ficou conhecida no clube como Galáctica. A prova de sua idolatria pode ser resumida na quantidade de torcedores que foram acompanhar o treino aberto desta terça-feira, o seu primeiro agora como treinador do Real. Foram mais de seis mil torcedores.
Mas o que esperar de Zidane como treinador? O ex-jogador e ex-dirigente do Real Jorge Valdano foi claro em afirmar que o ex-jogador francês "é uma aposta arriscada" por causa de sua inexperiência. Mas isso não necessariamente é sinal de insucesso. Assim como Zidane, que só acumula experiência no Real Madrid Castilla, equipe B do clube merengue que disputa a terceira divisão espanhola, Pep Guardiola também só havia dirigido o Barcelona B antes de assumir o time principal e iniciar a sua carreira de sucesso que prosseguiu no Bayern de Munique e deixa o mundo do futebol ansioso por saber qual será o seu próximo movimento. Guardiola deixará o clube alemão ao fim da temporada.
Contratado para substituir Rafa Benitez, demitido após sete meses no cargo, Zidane terá como primeiro desafio superar um tabu do futebol. Poucos craques do nível dele tornaram-se grandes treinadores quando deixaram os gramados. Há exceções, é claro. Johan Cruyff foi um deles. Campeão do mundo com a seleção alemão, Franz Beckenbauer foi outro. Um terceiro exemplo é o italiano Carlo Ancelotti, futuro técnico do Bayern e de quem Zidane foi auxiliar na temporada retrasada, durante a campanha do título europeu do Real Madrid.
Ancelotti sempre considerou Zidane o melhor jogador e o mais inteligente que comandou na carreira. O italiano foi seu técnico na Juventus entre 1999 e 2001. O treinador também atribui ao talento do francês em ouvir e ser escutado pelos jogadores como um trunfo naquela temporada em que o clube finalmente conquistou a sonhada la Décima.
- O ônibus da equipe não partia sem Zidane. Mesmo se ele estivesse uma hora atrasado. Era impensável idealizar um sistema de jogo sem ele no centro do projeto - escreveu o treinador no seu livro, "Minha árvore de Natal".
No epílogo do livro, Ancelotti ainda disse que "para ganha la décima seria necessário uma forte coesão entre o corpo técnico, os jogadores e o clube e uma grande ajuda virá do meu velho companheiro de viagem Zizou".
Ancelotti é uma das influências de Zidane. E uma pista do que podemos esperar do tipo de jogo que o francês gosta. O talento para ouvir as opiniões descrito por Ancelotti é corroborado por todos e deve agradar aos jogadores do Real Madrid, que também se irritavam com os repetitivos treinos de Benitez. Como ex-jogador, Zidane gosta da bola e sabe o que os jogadores gostam de trabalhar.


- Como jogador, gostava de jogar. Como treinador, quero que a minha equipe tenha a bola. E isso começa lá atrás, como um goleiro que jogue com a bola no pé. Quero a posse de bola e um jogo baseado em passes rápidos, de dois, três toques. A ideia é chegar muito rápido ao gol adversário, mas chegar de forma muito efetiva - disse Zidane, em uma recente entrevista.
Não por acaso o discurso do francês é semelhante ao de Guardiola. Em março do ano passado, Zidane visitou o treinador do Bayern em Munique para ouvir suas ideias e acompanhar treinamentos. Três meses antes, o ex-jogador foi até Marselha para fazer o mesmo com Marcelo Bielsa, uma das influências de Guardiola. Além dos três, também se aposta que Zidane pode exibir características de ex-treinadores dele como Marcelo Lippi, Vicente del Bosque e Aimé Jacquet, seu técnico na seleção campeão do mundo de 1998. No Castilla, Zidane alterna seu esquema entre o 4-3-3 e o 4-4-2.
CAMPANHA IRREGULAR E POLÊMICA
Zidane já vinha se preparando há muito tempo para virar treinador. Depois de ser auxiliar de Ancelotti, ele assumiu o Real Madrid Castilla na temporada passada. E todos davam como certo que a equipe B merengue era apenas um trampolim para que ele assumisse o time principal no futuro. O próprio presidente Florentino Perez deixava isso claro em entrevistas.
- Será um grande treinador e será treinador do Real Madrid. Estou certo que ele quer, aprendeu muito, deu passos gigantescos. É possível notar, é ele e será treinador - afirmou o dirigente em 2013.
No Castilla, porém, Zidane teve que enfrentar algumas polêmicas e maus resultados. A primeira vitória da equipe veio apenas na quarta rodada depois de três derrotas seguidas. O time terminou em sexto lugar ao fim da temporada, fora da disputa dos playoffs de acesso para a segunda divisão.
Durante o ano, o francês ainda foi suspenso por três meses porque ainda não tinha o diploma de nível 3 da Uefa, necessário para treinar equipes principais da Europa. Zidane só conseguiu diploma em maio do ano passado e a punição foi retirada.
Na atual temporada, o Castilla está em segundo lugar, quatro pontos atrás do Barakaldo, pequeno time do País Basco que nunca disputou a elite da Espanha. São dez vitórias, sete empates e duas derrotas em 19 jogos.
Além dos resultados contestados, Zidane se envolveu em outra polêmica ao nomear o seu filho, Enzo, como capitão em sua primeira temporada no time B. O meia, cujo nome foi dado em homenagem ao ex-jogador uruguaio Enzo Francescolli, tem 20 anos e muito em breve pode ser comandado pelo pai no time principal. Os quatro filhos de Zidane jogam no Real. Além de Enzo, o goleiro Luca joga no time sub-17 e os meias Theo e Elyaz atuam, respectivamente, nas equipes sub-13 e sub-11.
Treinador mais jovem do Real Madrid desde Jorge Valdano, que comandou o time em 1994 com 39 anos, Zidane, de 43, terá muitos desafios pela frente. Alçado precocemente ao primeiro time com a queda de Benítez, o craque terá que mostrar fora do campo um talento semelhante ao que tinha quando comandava o meio-campo do Real Madrid na era galáctica.
(Post originalmente publicado no blog Planeta que Rola)

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