Não importa o que aconteça no domingo, a Itália é a grande história da Eurocopa. A seleção que chega na final da competição contra a favorita Espanha em Kiev, na Ucrânia, sobreviveu aos escândalos, policiais visitando a concentração e mudou o seu estilo de jogo para ser a atração do torneio.
Para entender toda a revolução italiana comandada por Cesare Prandelli é preciso voltar um pouco no tempo. Campeã do mundo em 2006 sob o comando de Marcelo Lippi, a Squadra Azzurra naufragou dramaticamente no mundial seguinte ao se despedir pela porta dos fundos na primeira fases. Foram três partidas: dois empates contra Paraguai e Nova Zelândia e uma derrota por 3 a 2 para a Eslováquia na última rodada que mandou o time de volta para Roma bem mais cedo do que o previsto.
Ao mesmo tempo, a seleção que perdera para a Espanha nas quartas de final da Eurocopa de 2008 num jogo que é marcado como o da virada para o futebol espanhol viu os rivais deste domingo viverem uma trajetória ascendente que culmina com a terceira decisão em seis anos. Já são dois títulos para a Fúria (Euro-2008 e Mundial-2010).
Humilhada, a Itália iniciou a sua reconstrução com a chegada de Prandelli em 2010. O treinador vinha de cinco anos de trabalho bem sucedido na Fiorentina, quando levou o time da briga contra o rebaixamento à parte de cima da tabela. Foi quarto lugar na primeira temporada, sexto na outra e mais um quarto lugar e a classificação para a Liga dos Campeões da Europa no terceiro ano. No seu período, a equipe só não disputou duas Champions porque foi punida no primeiro ano com a perda de pontos por participação de um escândalo de manipulação de resultados chamado Calciopoli.
Não seria a primeira vez que Prandelli se veria vítima de um escândalo. Apenas doze dias antes de começar a Euro um novo escândalo atingiu o futebol italiano. Dezenove pessoas foram presas acusadas de manipular resultados nas três primeiras divisões da Série A. A polícia ainda foi na concentração da Itália para ouvir o zagueiro Criscito, que foi cortado da delegação. Com o escândalo, o primeiro-ministro italiano, Mario Monti, chegou a defender que o futebol italiano parasse por dois ou três anos para se limpar enquanto o técnico da Azzurra disse que o time poderia se retirar da Euro se pedissem. Durante a Euro, foram divulgadas as punições esportivas a alguns envolvidos.
- Nesse momento, disse: "queremos jogar, queremos ser o rosto limpo do futebol". Mas se acreditam que não representamos o país, diga-nos que voltamos para casa.
A Itália não se retirou na Euro e apresentou um futebol surpreendente no torneio. Sob o comando de Prandelli o conhecido catenaccio, aquele ferrolho que fez a Itália famosa, foi aposentado. O time que entrou em campo na estreia no grupo C contra a Espanha foi uma equipe que agredia o adversário, jogava de igual para igual com os campeões do mundo e prometia. O desafio agora está em não repetir a Alemanha na Copa do Mundo ou a França nesta Euro e não mudar o seu estilo contra os espanhóis.
- Eu realmente acredito que um time precisa de uma ideia da maneira como deve jogar. E ele deve apoiar esse estilo de jogo - disse Prandelli.
Mas não seria a Itália se não houvesse drama. Após um empate contra a Croácia na segunda rodada, a seleção chegou na última rodada precisando vencer a Irlanda e torcer para que a partida entre Espanha e Croácia não terminasse empatada. A Espanha venceu, a Itália também e as duas seleções avançaram.
Nas quartas de final foi um bombardeio italiano contra a Inglaterra. Mais de 30 chutes a gol, um futebol ofensivo, mas a bola teimou em não entrar. A vitória só veio nos pênaltis após o empate em 0 a 0 no tempo normal. A Itália estava na semifinal e enfrentaria o único time 100% na competição. A favorita Alemanha começou bem, mas parou em Buffon, um dos destaques do torneio ao lado de Pirlo, talvez o craque da Eurocopa. Lá na frente, o polêmico Mario Balotelli resolveu e a Itália estava em mais uma final após a vitória por 2 a 1.
- Quando se fala da Itália é preciso ter cuidado. Fizemos um campeonato extraordinário, dando um exemplo de integridade e amor à camisa - disse Prandelli, dividindo o favoritismo para os espanhóis. - Eles são os favoritos. Mas nós também.
Prandelli mudou o esquema da Itália e empolgou o seu time, que já acredita no bicampeonato da Euro. Seu único título foi em 1968, quando sediou o torneio. Se a Espanha tem um ligeiro favoritismo, a Itália tem a história a seu favor. Em sete jogos contra os espanhóis em torneios importantes, nunca perdeu. Foram três vitórias e quatro empates, ainda que o 0 a 0 de 2008 tenha rendido uma dolorosa eliminação nos pênaltis.
Em Copas do Mundo, foram três jogos: 2 a 1 pelas quartas de final em 1994 e 1 a 1 e 1 a 0 para a Itália em 1934. Os demais confrontos foram pela Euro: 0 a 0 em 1980, 1 a 0 em 1988 e 1 a 1 neste ano.
Será que a Itália conseguirá manter essa pequena escrita? Para um time que já foi tão longe quando não se esperava, nada parece impossível.
(Post originalmente publicado no blog Planeta que Rola)
Nenhum comentário:
Postar um comentário