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Jogadores do Liverpool e do Valerenga respeitam um minuto de silêncio (é silêncio mesmo)- Marcelo Alves |
Não é todo dia que se vê um jogo de um gigante europeu. Principalmente quando eles não jogam no seu país com frequência. Por isso que o Liverpool levou uma torcida de respeito ao Ullevaal Stadium, em Oslo, capital da Noruega, nesta segunda-feira para assistir ao penúltimo amistoso da equipe de Kenny Dalglish antes do início da temporada no próximo dia 13, quando os Reds dão o pontapé inicial no Campeonato Inglês contra o Sunderland.
Foram mais de 24 mil pagantes no estádio que tem capacidade de 25.572 pessoas. Desse total, 90% era de torcedores do time inglês, o que provocou no Valerenga, time de Oslo que foi o adversário da vez, a sensação de ser visitante jogando em casa. Ao meu lado, um orgulhoso torcedor do clube e dublê de fonte jornalística me explicou que o mar vermelho que invadiu o estádio cantando “You’ll never walk alone” tem sentido porque a Noruega é o país que tem o maior número de torcedores do time inglês na Europa (tirando a Inglaterra, evidentemente).
Em campo, fãs dos Reds e do Valerenga viram uma partida movimentada, em clima de amistoso mesmo, e um empate em 3 a 3 que agradou a todo mundo na noite (apenas no relógio, porque estava o maior sol) de Oslo.
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Torcedores do Liverpool bebendo nos bares do lado de fora do estádio - Marcelo Alves |
Para os torcedores noruegueses do clube inglês foi quase um acontecimento. Desde cedo, eles já se acumulavam do lado de fora do estádio comendo nas lanchonetes ali por perto e bebendo antes de entrar. Lá dentro não vi bebida alcoólica sendo vendida. Apenas refrigerantes e água. Para comer, uma linguiça enrolada num pão árabe ou chocolates.
Foi no Ullevaal que conheci o maravilhoso mundo do lugar marcado. Uma realidade que no Rio só tenho nos cinemas. Você pode entrar faltando cinco minutos para o início da peleja que vai se sentar no lugar pelo qual você pagou. Isso é que é ver futebol. Tudo bem que os assentos são bem apertados e desconfortáveis, mas nem tudo é perfeito.
Antes, a torcida espera pacientemente a chegada do time. Sem Gerrard, que se lesionou na pré-temporada e só volta a jogar em setembro, e Luís Suárez, o atacante que ganhou alguns dias de descanso após a conquista da Copa América pelo Uruguai, os mais festejados são o técnico Kenny Dalglish, maior ídolo da história do clube, o que faz muitos torcedores vestirem uma camisa vermelha com sua foto e a frase “King Kenny”, e o zagueiro Jaime Carragher, uma lenda para os torcedores e um dos remanescentes do último título europeu do clube em 2005.
Após a salva de palmas, cada um foi tomar as últimas cervejas antes de entrar no estádio. Maior arena da Noruega, o Ulevaal recebe jogos do Valerenga e da seleção do país. Foi aqui que na semana passada o time perdeu de 2 a 0 para o PAOK Salonika, da Grécia, e ficou em situação difícil na terceira rodada eliminatória da Liga Europa. Mas a torcida é animada e canta junto a “Valerenga Kirke” com um artista local encarregado de tocar a música. A canção (veja o vídeo no fim do post) é uma espécie de hino informal do clube e muito importante por falar de uma igreja da região construída no século XIX que foi praticamente toda destruída por um incêndio em 1979. A igreja foi reconstruída em 1984, quando Tronde Ingebretsen compôs a letra que foi gravada pela sua banda, o Bjolsen Vasemolle. A partir daí, a música passou a ser cantada pelos torcedores do Valerenga.
Depois, o estádio inteiro cantou com outro artista local “You’ll never walka alone” (vou dizer que é realmente emocionante ver isso) e é respeitado um minuto de silêncio pelas vítimas que morreram no atentado da semana retrasada na Noruega (e é silêncio mesmo. Poderiamos ouvir um alfinete cair no chão). Os jogadores do Liverpool também colocaram flores atrás de um dos gols em homenagem aos mortos.
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O mar vermelho de torcedores do Liverpool - Marcelo Alves |
Na partida, o clima era total de amistoso. O Liverpool estava bastante modificado. Além das estrelas citadas acima, também não estiveram em campo o brasileiro Lucas, que ficou em Liverpool treinando e os meias Joe Cole, Maxi Rodriguez e Raul Meirelles. Estes dois últimos foram titulares na temporada passada. Com isso, Kenny Dalglish colocou em campo suas três novas contratações, os jogadores de meio-campo Charlie Adam, Stewart Downing e Jordan Henderson. Junto com Jay Spearing, foi uma formação que nunca jogou junta, o que se pôde perceber com a falta de entrosamento do setor. Adam esteve bem na partida, enquanto os outros dois novatos não jogaram bem.
O Valerenga levou um pouco mais à sério o amistoso, mas também não queria correr muitos riscos já que na quinta-feira faz um jogo decisivo contra o PAOK pela Liga Europa.
Em campo, além da falta de entrosamento do meio, dá para perceber várias coisas. Primeiro: se fosse para levar em conta só essa partida, o Liverpool gastou é muita grana por Andy Carroll. Até fazer o primeiro gol, o ex-centroavante do Newcastle tinha acumulado duas faltas, alguns empurrões, muitos saltos e algumas matadas de bola na canela. É um bonde, diriam uns. Mas é matador. Tanto é que estava lá presente para fazer o primeiro gol quando os Reds perdiam de 2 a 0.
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A torcida do Valerenga - Marcelo Alves |
Em segundo lugar, como o Dirk Kuyt gosta de cornetar o jogo. Não tem um lance que ele discorde da marcação do árbitro que ele não vá buzinar no ouvido do bandeirinha. Os assistentes devem sofrer com o holandês.
Mas como eu disse, no início quem foi ver o Liverpool viu foi o Valerenga. Marcando em cima, o time que mostrava ter muito mais condicionamento físico (o que faz sentido, porque a temporada na Noruega começou em abril), abriu logo 2 a 0 com Strand aos 13 e Ogude, aos 19 num pênalti marcado só depois da pressão da torcida. Vocês achavam que só existia árbitro caseiro no Brasil? Depois desse lance, qualquer jogador do Liverpool que caia na área, a torcida gritava, mas em nenhum lance houve pênalti realmente. Carroll diminuiu aos 43 num lance confuso na área que ele definiu.
O centroavante jogou muito isolado no esquema de Dalglish. Kuyt, que deveria ser o seu parceiro de ataque, jogava mais no meio-campo, o que fez o Liverpool alinhar num 4-5-1. Mas sua defesa não estava nada protegida porque pelo lado direito havia uma avenida chamada Glen Johnsson por onde todo mundo passava. Entre eles, um jogador chamado Kone que infernizou a defesa dos Reds.
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O lance do gol de pênalti do Valerenga - Marcelo Alves |
A torcida do Valerenga fazia a festa e ensaiava versões de Guantanamera e Glory, glory United, ops, Valerenga. O troco viria no segundo tempo, quando o Liverpool voltou melhor – afinal, não ia querer decepcionar os seus fãs noruegueses –, mas só chegou aos gols nos dez minutos finais. Foi exatamente no período em que o volante italiano Aquilani esteve em campo. Ele mudou a partida (e não pode deixar o clube, a julgar pelo que jogou no amistoso). Foi dele as melhores jogadas e os cruzamentos para os dois gols do zagueiro Agger.
Era a vez da torcida organizada do Valerenga que se posicionava atrás de um dos gols ficar quieta, com os braços cruzados e cara de poucos amigos. Naquela situação, eu não pegaria o metrô com eles de jeito nenhum. Mas já nos acréscimos, quando os torcedores cantavam, como é tradição, “You’ll never walk alone” (começa aos 45 do segundo tempo), Fellah achou um gol de fora da área sem chance para Reina e deu números finais à partida.
Em minutos o estádio já estava vazio de novo com os torcedores se dirigindo satisfeitos para as suas casas de trem, ônibus ou metrô.
O Liverpool agora fará um amistoso contra o Valencia no sábado, na Espanha. Até agora o time fez cinco jogos na pré-temporada. Ganhou dois (Guangdong 4 a 3 e Malásia XI 6 a 3), empatou um e perdeu para o Hull City (3 a 0) e o Galatasaray (3 a 0).
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A torcida do Liverpool cantando You'll never walk alone no fim do jogo - Marcelo Alves |
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Kenny Dalglish acena para os torcedores - Marcelo Alves |
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Dirk Kuyt na chegada ao estádio - Marcelo Alves |
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O estádio ainda vazio antes da partida - Marcelo Alves |
(Post originalmente publicado no blog Planeta que Rola)
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