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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Millionarios pode abrir mão de dois títulos nacionais

Millonarios anunciou que pode renunciar aos títulos nacionais que conquistou em 1987 e 1988, quando o clube era controlado por chefões do narcotráfico, entre eles Gonzalo Rodríguez Gacha. O Millonarios é o maior campeão da Colômbia com 13 conquistas. As duas últimas foram exatamente as da década de 1980, quando o time foi campeão com a ajuda do tráfico, entre elas a compra de juízes.
- Esse é um debate ético e muito preliminar que ainda precisará de muitas horas de análises e discusões antes de tomarmos uma decisão - afirmou Felipe Gaitán, presidente do clube.
O anúncio de Gaitán foi feito em Madri, onde o time colombiano está para disputar nesta quarta-feira uma partida contra o Real Madrid em homenagem ao ex-jogador Alfredo Di Stéfano, que se transferiu do clube colombiano para o espanhol em 1953 após uma disputa entre Barcelona e Real Madrid que foi parar na Fifa.
- Estudamos a possibilidade de permanecer com os títulos que foram obtidos de forma legal. Este é um debate que está na mesa, mas ainda falta fazer muita análise para tomarmos uma decisão - acrescentou Gaitán. - Isso tem muitas implicações, mas também passa uma mensagem positiva.
O Millionarios foi campeão pela primeira vez em 1949 e depois voltaria a conquistar os títulos nacionais em 1951 e 1952. Todos sob o comando de Di Stéfano em campo e quando o futebol do país começava a se profissionalizar.
Com a saída do craque argentino, só voltaria a ser campeão em 1959. Também conquistaria mais dois títulos nas décadas de 60 (1961 e 1964) e de 70 (1972 e 1978) antes dos éxitos nos anos 80, que agora são contestados pelo próprio clube.
O ministro do Interior da Colômbia, Fernando Carillo, viu como um gesto positivo a possibilidade de o Millionarios abrir mão das conquistas. E agora na Colômbia há uma pressão para outros beneficiados pelo narcotráfico pensarem em repetir o gesto.
- O Millionarios daria uma grande lição. Vamos aguardar quem pode segui-lo neste gesto histórico - disse.
O gesto e a própria abertura de discussão do Millonarios já abriu um debate no país sobre os títulos "conquistados pelo narcotráfico" a partir da década de 80. O clube não foi o único beneficiado pela corrupção no esporte. Outros também se envolveram com o poder paralelo na Colômbia e agora também podem ser pressionados a tomar a mesma atitude.
- Não é uma má ideia (abrir mão dos títulos) e espero que isso ganhe força e se torne uma realidade para que estes títulos se declarem nulos - afirmou o presidente do América de Cali, Carlos Andrade, clube que também soma 13 títulos nacionais e fica numa das regiões que ficaram mais conhecidas quando o tráfico tinha muita força na Colômbia.
Dos 13 títulos do América, boa parte foi conquistada no período em que Miguel e Gilberto Rodriguez dominavam o narcotráfico. Os dois estão presos nos Estados Unidos.
Depois do título do Millonarios em 1988, a última parte do torneio de 1989 foi cancelada após o assassinato de um juíz em Medellín, onde funcionava um cartel comandado por Pablo Escobar.
Em outubro de 1983, o então ministro da Justiça Rodrigo Lara Bonilla revelou surgimento na Colômbia de um "narcofutebol". Em abril do ano seguinte, ele foi assassinado dentro do seu carro em Bogotá.
- As equipes de futebol profissional em poder de pessoas vinculadas ao narcotráfico são Atlético Nacional, Millonarios, Santa Fé, Deportivo Independiente Medellin, América e Deportivo Pereira - denunciou na época o ministro.
Na ocasião, Bonilla provocou um terremoto no futebol colombiano. A maioria dos times denunciados por Bonilla já trocaram de dirigentes.
Muitas equipes de futebol eram usadas por chefões do tráfico para lavar dinheiro do crime organizado. Dois acionistas do Independiente Medellín chegaram a ser condenados em maio do ano passado pelo crime. José Rodrigo Tamayo, sócio majoritário do clube entre 1998 e 2006, foi condenado a nove anos e oito meses de prisão enquanto que Mario de Jesus Valderrama, ex-presidente do clube entre 1998 e 2000, foi condenado a oito anos de prisão.
Primeiro campeão do país em 1948, o Independiente Santa Fé também foi investigado por ter se convertido, segundo denúncias da Justiça, em "uma máquina de lavar dinheiro do narcotráfico". Recentemente, o time conquistou o seu sétimo campeonato nacional depois de 37 anos de jejum.
(Post originalmente publicado no blog Planeta que Rola)

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