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sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Leboeuf, o zagueiro campeão do mundo que pode ganhar um Oscar

 O ex-zagueiro durante a sua participação no filme 'A teoria de tudo', que conta a história de Stephen Hawking
O zagueiro Frank Leboeuf, hoje com 47 anos, não era um dos protagonistas da França campeã do mundo de 1998, mas fez parte do grupo e acabou jogando a final contra o Brasil por causa da expulsão do então titular Laurent Blanc na semifinal contra a Croácia. Leboeuf fez história como parte do time que conquistou o único título mundial dos franceses e agora pode se tornar o primeiro jogador a faturar os dois maiores "troféus" do futebol e do cinema.
Poucas pessoas repararam, mas Leboeuf está no elenco de "A teoria de tudo", filme que conta a história do físico Stephen Hawking, e que ganhou cinco indicações ao Oscar, entre elas a de melhor filme.
A participação do ex-zagueiro no filme é pequena, mas foi o suficiente para ele ser incluído no trailer da produção. Leboeuf é o médico que anuncia para Jane Hawking, a esposa de Stephen vivida pela atriz Felicity Jones, que o físico terá que fazer uma traqueostomia e pode nunca mais voltar a falar. Se você ainda não viu o filme, preste atenção no médico careca que vai aparecer logo após Stephen (interpretado por Eddie Redmayne), passar mal enquanto acompanhava uma ópera.
Leboeuf encerrou a carreira em 2005, após passagens por clubes como Strasbourg, Chelsea, Olympique de Marseille e Al Wakrah, do Qatar. Após pendurar as chuteiras, o zagueiro foi morar em Los Angeles por dois anos. Na cidade, ele jogou por um time amador, o Hollywood United, mas a sua grande motivação era estudar em escolas de interpretação, pois virar ator era uma paixão de infância.
O ex-jogador estudou no Instituto Lee Strasberg, onde estiveram nomes como Robert de Niro, Scarlett Johansson, Angelina Jolie e Mickey Rourke. Depois dos estudos, ele começou a buscar o seu espaço. Após participar de uma pequena produção de TV, Leboeuf atuou em diversas peças de teatro na França e começou a fazer participações em filmes. O francês está ainda em “Allies”, um drama de guerra em que vive um soldado da resistência francesa durante a Segunda Guerra Mundial.
- Eu sempre fui apaixonado por atuar desde que era jovem. Mesmo antes de pensar em futebol, eu queria ser ator. Não é um acaso, é algo que eu desejava há muito tempo. Em 2000, eu fiz um filme, Taking Sides, enquanto era jogador do Chelsea. Então, depois que eu parei de jogar futebol, comecei a fazer cursos de interpretação por dois anos em Los Angeles. Eu trabalhei duro nisso. Praticava de quatro a cinco horas no palco ou atrás das câmeras para aprender – disse o ex-zagueiro, em entrevista em novembro do ano passado para o site “RadioTimes”.
Aos poucos, Leboeuf foi conseguindo trabalhos. Sua página no IMDB, site especializado em cinema, informa que ele tem dois filmes em pós-produção, ou seja, que estão em fase final para serem lançados: “Caravaggio and my mother the Pope” e “The Eight Sin” e uma produção que ele está filmando, “400 boys”, com previsão de lançamento em 2016.
Mas o início de Leboeuf foi difícil. Ele conta que não era levado à sério na França.
- Na França, eu não podia fazer testes porque eles sempre pensavam que eu era um jogador de futebol e não me levavam à sério. Mas na Inglaterra, eu ganhei oportunidades. Participei de duas produções, “Allies” e “A teoria de tudo”. Eles me deram a chance de mostrar minhas novas habilidades e eu sou grato por isso - afirmou.
- As pessoas dizem coisas estúpidas. Dizem: “Ah, todo jogador de futebol quer atuar”. Mas só há três na verdade: Vinnie Jones, Eric Cantona e eu – lembrou o ex-zagueiro, citando o ex-jogador inglês que atuou em filmes como “X-Men: o Confronto final” (2006) e “Snatch – porcos e diamantes” (2000) e o ex-atacante francês, que atuou em “Elizabeth” (1998) e é a estrela do divertido “À procura de Eric” (2009) em que o jogador faz um papel dele mesmo, um dos maiores ídolos do Manchester United.
Leboeuf como um soldado francês em 'Allies'
Por falar em Cantona, o ex-atacante foi o que chegou mais perto do que Leboeuf pode conseguir na semana que vem. “Elizabeth” ganhou um Oscar de maquiagem em 1999, mas o ex-atacante não fez parte do time campeão em 1998, pois se despediu da seleção após uma discussão com o técnico Aimé Jacquet.
Por outro lado, nem Cantona, nem o próprio Leboeuf conseguiram repetir ainda o que fez Neil Peterson. O desconhecido ex-jogador escocês do Dundee United nunca levou a carreira muito à sério. Ele queria permanecer como amador e se aposentou cedo, apesar do sucesso como capitão do clube escocês na temporada 1936-37. Virou escritor e em 1960 ganhou um Oscar pelo roteiro de "Almas em Leilão" (filme abaixo).
CONVERSAS COM JOHN MALKOVICH
Leboeuf conta que tentou pegar conselhos com John Malkovich, mas acabou não conseguindo.
- Eu fui me encontrar com John Malkovich quando estava em Marselha. Conversei um pouco com ele sobre os negócios, mas não queria incomodá-lo demais. Então, a maior parte do tempo conversamos sobre futebol e vinho.
Na mesma entrevista ao “RadioTimes”, Leboeuf conta que a experiência de participar de “Allies” foi incrível, falou das dificuldades de interpretar em uma língua diferente do francês - “Meu inglês é ok, mas eu tenho que trabalhar uma forma de encontrar a emoção e dizer o mesmo que diria em francês” – e traçou semelhantes entre atuar e jogar futebol.
- Nós conhecemos as câmeras e não temos medo de ficar diante delas. Também temos que ter cuidado com o que dizemos na frente delas. Às vezes, não queremos dizer a verdade porque os jornalistas querem nos fazer admitir algo que não queremos. Você precisa ser um pouco ator quando é jogador de futebol. Mas é difícil de comparar. Se você está num jogo, tem pelo menos pessoas na sua frente. Se está num filme, você filma e refilma e depois espera um ano para ver o que acontece - comparou.
Além de Vinnie Jones, Cantona e agora Leboeuf, outros jogadores já atuaram em algumas produções cinematográficas. Franz Beckenbauer e Paul Breitner já participaram de comédias alemães, enquanto que o ex-goleiro da seleção sueca Ronnie Hellström atuou em uma produção sobre futebol chamada “Finpem” em 1974. Os ex-atacantes italianos Roberto Boninsegna e Carlo Ancelotti, hoje técnico do Real Madrid, também participaram de um filme dirigido por Terence Hill chamado “Don Camillo” em 1984.
Até o Rei Pelé, que teve um filme feito sobre ele, deu seus chutes no cinema participando de produções ao lado dos Trapalhões (“Os Trapalhões e o Rei do Futebol”, de 1986) e de produções estrangeiras como “Hotshot” (1987) e “Fuga para a vitória” (1981), em que atua ao lado de Sylvester Stallone e dos também ex-jogadores Bobby Moore e Osvaldo Ardiles.
Mas nenhum deles levou realmente a nova carreira a sério, e talvez nem era o que desejassem, como Leboeuf. Fazer parte do Oscar, mesmo que com um pequeno papel, pode ser só o primeiro passo para voos mais altos do zagueiro que agora tenta vencer no mundo do cinema.
(Post originalmente publicado no blog Planeta que Rola)

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